quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Historia dozamigos meus (baseada em Peter Gabriel real facts)





Essa é uma historia verídica sobre duas pessoas burras.
Tao burras que viraram história.

Aconteceu recentemente, ou em outra vida, nao sei. E lembro como se fosse hoje, assisti de perto, de cima, de camarote.
O tema é o mesmo de sempre. (Se nao gosta, a porta fica a direita.)
Alguém que foi embora e alguém que ficou.
Um escolheu a Saída, e o outro, a Solução.


O que escolheu a Saída, tá aí nesse mundão, andando sozinho sem receber nenhum beijinho de bom dia, ninguém pra fazer cafuné encostado com as costas na porta de vidro, ninguém pra sorrir pra ele quando ele fica simplesmente parado sendo ele mesmo. Ninguém que gosta da ponta do seu nariz rosa ou do canto do seu olho.
Ninguém pra preencher seus sonhos.
Ninguém.
E ainda assim, todo mundo que nunca importou nada.

O que escolheu a Solução, bom, tá perdido por aí também. Deu certo, deixou pra lá, recuperou a saúde (que andava meio mal), se desintoxicou dos vícios, das obcessoes mais loucas, e da posse que era posse e o nome já diz tudo (ah, e parou de escutar Nx Zero tambem, é bom lembrar).
A Soluçao, no entanto, nao garantia 100% de eficácia, total recuperaçao de danos, e na receita tambem nao dizia nada sobre tampar buracos ou que remendava coraçao pisoteado.
Muito menos que apagava mágoa.

A Soluçao e a Saída combinaram de se encontrar em um certo ponto da vida dos dois burrinhos. Dessa uniao contra as forças do mal, nasceram duas células: a Saudade e o Orgulho.
Tudo farinha do mesmo pote podre. Girininhos do mesmo sapo do mal. Gemeos siameses que controlam o equílibro emocional das pessoas. Um sempre ganha, e o outro sempre perde...

Um dia os burros se encontraram. Se olharam, sorriram, nao disseram nada além do mais pesado silêncio.
Ela pensou: saudade. Ele pensou: orgulho.
Com isso, só deu tempo dele fechar seus dois olhinhos multicoloridos, e ir embora.
De novo.

No caminho pra casa foi pensando se a saída que escolheu era a certa.
Se sempre fugir, sumir, se esquivar da realidade era o melhor.
E antes do pensamento ser concluído, saiu correndo de volta pra tentar alcançar a burrinha.
Quando chegou lá, ela já estava bem longe...

A unica coisa que ele encontrou foi a Soluçao sentada num banquinho.
Ela disse: "Eu nunca sou a mesma pra todas as pessoas, situaçoes e acasos da vida. Assim como no meio do caminho sempre surgem outras saídas.
As decisoes mudam porque a vida muda, o tempo passa. Novas pessoas surgem, novas situaçoes aparecem, e a vida só é vida porque é feita de cimento e períodos.
Fases.
Cada dia um saco novo, cada dia mais forte.
Todo mundo se recria ocasionalmente.
Sentimentos vem e voltam, novos surgem, antigos morrem.
E sabe, ela só foi embora porque voce também optou ir. Nao que seja errado, e ela entende. Foi só o que era melhor pra voce.
Mas pode ter certeza que ela teria ficado... eu parei de me ajustar na rotina dela no segundo que voce reapareceu. Porque que voce acha que eu to sentada nesse banquinho aqui forever alone, menino?"


E anos depois se encontraram de novo.
A decisao de ficar era mais uma vez, óbvia.
Dessa vez ambos continuaram presos ao chão.
Ninguém saiu do lugar, nenhum largou o cabo de força.
Sorriram, porque nada tinha mudado.

Recomeçaram. Ou só continuaram da onde tinham parado.
Da uniao, nasceu o Tempo (um filho bem mais esperto que os pais).
Do amor dos três, apareceu a inteligencia e a maturidade.
No outro dia no baile funk contaram pros colagas que "O Tempo resolveu tudo".




Moral da história: as vezes na vida, até os mais burros tomam as mais sábias decisões.

(Boa sorte pra vocês, beijos de mim)







terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

True Story

Ah, eu vi como ela acordou naquele dia.
Na verdade, não parecia nem ter dormido.
Escovou os cabelos automaticamente, não olhou pra ninguém quando saiu de casa pela manhã.
No entanto, era um dia bonito. O sol brilhava, passarinhos cantavam e todo mundo parecia de bom humor.
Ela, porem, parecia poder chorar a qualquer momento. Seus olhos não acompanhavam o ritmo do seu redor, só ficavam lá, girando desanimadamente em sua própria órbita.
E era assim todo ano, acredite. Ela acordava sempre, nessa mesma data, achando que ele fosse esquecer.
Mas quando bateu a porta de casa, até eu comecei a duvidar se esse ano ela teria alguma surpresa. Ele realmente parecia não se importar tanto mais. Ou talvez seja só eu, que não acompanho as reticências do relacionamento dos dois.
As horas passaram e nada dela. Na verdade, não existia nem por onde começar a procurá-la, pois seu celular estava no conforto de casa, muito provavelmente propositalmente.
E... Será que ela voltaria hoje?
Enquanto me perguntava isso, o telefone tocou. Uma encomenda?
Abri a porta para recebê-la, e me deparei com 8 vasos de orquídeas, com laços azuis perfeitamente feitos. Fui correndo deixá-las em seu quarto, abri as janelas, deixei a luz entrar.
Posicionei-as bem na entrada, para ela tomar um susto.
E aí, ela voltou.
Me abraçou forte, já era tarde. Falou que precisava dormir.
Afaguei sua cabeça e ela começou a soluçar bem baixinho.
“o que eu faço?’’ – perguntou.
Falei que fosse deitar, talvez o que ela estivesse sentindo passasse.
E quando ela abriu a porta, quase desfaleceu de vez. Mas foi com calma, e arrancou o cartão da primeira orquídea.
Ele dizia assim:
‘’Todos os dias eu acordo, com a vontade de te ligar pra contar o que eu comi, se tomei banho, se levei os cachorros para passear. De vez em quando eu o faço, só pra depois ter certeza de que não vou poder ligar no dia seguinte de novo, sem querer ir te buscar pra fugir comigo, aonde quer que voce esteja. Comecei a perceber também, depois desses anos, que a vida sem voce, é, no mínimo, um tanto inútil. E que quando me pego sem a menos esperança de sobreviver a mais uma semana, passo debaixo da sua janela e controlo a vontade de gritar seu nome.
Só de saber que voce está ali em algum lugar, provavelmente debaixo da sua coberta azul, folheando algum romance o que voce não acredita, escutando algum vinil numa vitrola laranja velha, e ao mesmo tempo escrevendo no seu diário os momentos do seu dia sempre claro, já me deixa infinitamente mais calmo. Infinitamente mais pleno.
Bom, acho que isso significa que fico preso a voce, exatamente como essas orquídeas: eram agarradas numa arvore, e depois o destino as levou para outros donos, outras vidas.
E por mais que voce duvide, penso todos os dias em ir te encontrar, jogar conversa fora, ou nossa partidinha de vídeo game fatal.
Mas... a vida pareceu ter andando rápido demais pra nós. Voce balbucia conselhos pra minha vida amorosa dar certo, enquanto eu tenho, morro de ciúmes da sua. E em pensar que hoje se completam 8 anos que uma vez fiz parte dela, no começo literal da sua, de nossas vidas.
Parece ontem.
E como voce mesma diz, existe tanta coisa a dizer, mas tanta vontade de iguinorar. Melhores amigos fazem isso né? Iguinoram coisas presentes, problemas inevitáveis. Ou não?
O problema é que hoje, resolvi te contar que os dias passam e fica mais difícil de te dizer tchau em despedidas. Ou de continuar andando pra frente quando voce está indo pro lado oposto. De dizer ‘’me ajuda’’, quando eu quero falar ‘’vem pra cá’’.
E fiquei parado em casa, com essas 8 flores, que me lembram nossas conversas de domingo de manha na varanda, rindo de como as coisas eram fáceis.
Domingo de manha. Igual aquela musica. A nossa, lembra?
Bom, é isso. São suas. Pode contar cada pétala, e eu ainda consigo te amar 72 vezes mais que esse numero.
É pouco ainda.
Daqui a mais 8 anos, talvez eu te convença que te amo 27274284 vezes mais e que voce é, no sempre, única. Inácio.”

E ai, ela parou de chorar, sabe?
Sorriu, ligou o som numa musica familiar, e dormiu.