terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

True Story

Ah, eu vi como ela acordou naquele dia.
Na verdade, não parecia nem ter dormido.
Escovou os cabelos automaticamente, não olhou pra ninguém quando saiu de casa pela manhã.
No entanto, era um dia bonito. O sol brilhava, passarinhos cantavam e todo mundo parecia de bom humor.
Ela, porem, parecia poder chorar a qualquer momento. Seus olhos não acompanhavam o ritmo do seu redor, só ficavam lá, girando desanimadamente em sua própria órbita.
E era assim todo ano, acredite. Ela acordava sempre, nessa mesma data, achando que ele fosse esquecer.
Mas quando bateu a porta de casa, até eu comecei a duvidar se esse ano ela teria alguma surpresa. Ele realmente parecia não se importar tanto mais. Ou talvez seja só eu, que não acompanho as reticências do relacionamento dos dois.
As horas passaram e nada dela. Na verdade, não existia nem por onde começar a procurá-la, pois seu celular estava no conforto de casa, muito provavelmente propositalmente.
E... Será que ela voltaria hoje?
Enquanto me perguntava isso, o telefone tocou. Uma encomenda?
Abri a porta para recebê-la, e me deparei com 8 vasos de orquídeas, com laços azuis perfeitamente feitos. Fui correndo deixá-las em seu quarto, abri as janelas, deixei a luz entrar.
Posicionei-as bem na entrada, para ela tomar um susto.
E aí, ela voltou.
Me abraçou forte, já era tarde. Falou que precisava dormir.
Afaguei sua cabeça e ela começou a soluçar bem baixinho.
“o que eu faço?’’ – perguntou.
Falei que fosse deitar, talvez o que ela estivesse sentindo passasse.
E quando ela abriu a porta, quase desfaleceu de vez. Mas foi com calma, e arrancou o cartão da primeira orquídea.
Ele dizia assim:
‘’Todos os dias eu acordo, com a vontade de te ligar pra contar o que eu comi, se tomei banho, se levei os cachorros para passear. De vez em quando eu o faço, só pra depois ter certeza de que não vou poder ligar no dia seguinte de novo, sem querer ir te buscar pra fugir comigo, aonde quer que voce esteja. Comecei a perceber também, depois desses anos, que a vida sem voce, é, no mínimo, um tanto inútil. E que quando me pego sem a menos esperança de sobreviver a mais uma semana, passo debaixo da sua janela e controlo a vontade de gritar seu nome.
Só de saber que voce está ali em algum lugar, provavelmente debaixo da sua coberta azul, folheando algum romance o que voce não acredita, escutando algum vinil numa vitrola laranja velha, e ao mesmo tempo escrevendo no seu diário os momentos do seu dia sempre claro, já me deixa infinitamente mais calmo. Infinitamente mais pleno.
Bom, acho que isso significa que fico preso a voce, exatamente como essas orquídeas: eram agarradas numa arvore, e depois o destino as levou para outros donos, outras vidas.
E por mais que voce duvide, penso todos os dias em ir te encontrar, jogar conversa fora, ou nossa partidinha de vídeo game fatal.
Mas... a vida pareceu ter andando rápido demais pra nós. Voce balbucia conselhos pra minha vida amorosa dar certo, enquanto eu tenho, morro de ciúmes da sua. E em pensar que hoje se completam 8 anos que uma vez fiz parte dela, no começo literal da sua, de nossas vidas.
Parece ontem.
E como voce mesma diz, existe tanta coisa a dizer, mas tanta vontade de iguinorar. Melhores amigos fazem isso né? Iguinoram coisas presentes, problemas inevitáveis. Ou não?
O problema é que hoje, resolvi te contar que os dias passam e fica mais difícil de te dizer tchau em despedidas. Ou de continuar andando pra frente quando voce está indo pro lado oposto. De dizer ‘’me ajuda’’, quando eu quero falar ‘’vem pra cá’’.
E fiquei parado em casa, com essas 8 flores, que me lembram nossas conversas de domingo de manha na varanda, rindo de como as coisas eram fáceis.
Domingo de manha. Igual aquela musica. A nossa, lembra?
Bom, é isso. São suas. Pode contar cada pétala, e eu ainda consigo te amar 72 vezes mais que esse numero.
É pouco ainda.
Daqui a mais 8 anos, talvez eu te convença que te amo 27274284 vezes mais e que voce é, no sempre, única. Inácio.”

E ai, ela parou de chorar, sabe?
Sorriu, ligou o som numa musica familiar, e dormiu.

Um comentário:

  1. Cara,como eu gosto de dar uma passada aqui e ler ou reler algum post seu.Pode parecer falta do q fazer(pior q nao é),ou algum tipo de carência(talvez seja de alguma forma).Mas o q realmente acontece e q eu acabo por me identificar com algumas coisas aqui.Ou sair do meu mundo,e visualizar o seu,de uma forma q se eu tivesse do seu lado vivendo aquilo com vc talvez nao visse,q é a forma q vc ver aquilo dentro de vc.E achar coisas q gosto, e vezes nao tenho paciência de ficar atrás,como essa música da lissie.Bom,vc é linda!E depois eu passo aqui de novo!
    Admirador.

    ResponderExcluir

Comentarios serao bem vindos!